
Após anos de crises políticas e descontentamento popular, o governo de D. Pedro I chegou ao fim em meio a pressões internas e externas. A morte de D. João VI, em 1826, acentuou os conflitos entre os interesses portugueses e brasileiros, precipitando os últimos atos do imperador no trono do Brasil.
A sucessão do trono português
Com a morte de seu pai, D. João VI, D. Pedro herdou o trono de Portugal, tornando-se simultaneamente imperador do Brasil e rei de Portugal. Para evitar que os dois reinos voltassem a se unir sob um mesmo soberano — o que desagradaria tanto brasileiros quanto portugueses —, D. Pedro abdicou da coroa portuguesa em favor de sua filha, D. Maria da Glória, então uma criança.
Contudo, seu irmão D. Miguel deu um golpe de Estado em 1828, usurpando o trono e proclamando-se rei de Portugal. D. Pedro reagiu à traição preparando-se para uma campanha militar que visava restaurar os direitos de sua filha, o que provocou severas críticas no Brasil. Para muitos políticos e jornais, o imperador mostrava-se mais interessado nos assuntos de Lisboa do que nos problemas brasileiros.
A crise política e a morte de Líbero Badaró
A popularidade de D. Pedro I já vinha em declínio, mas atingiu seu ponto mais baixo após o assassinato do jornalista Giovanni Battista Líbero Badaró, em 1830, em São Paulo. Conhecido por suas críticas ao governo e por defender ideias liberais, Badaró foi morto por simpatizantes do imperador, o que gerou enorme comoção e revolta em todo o país.
Em Minas Gerais, durante uma viagem de D. Pedro, o povo reagiu de forma simbólica: os sinos das igrejas tocaram o dobre de finados, como se o imperador tivesse morrido politicamente. A imagem de D. Pedro como um monarca autoritário e distante consolidava-se rapidamente.
A Noite das Garrafadas
Ao retornar ao Rio de Janeiro, D. Pedro I foi recebido com entusiasmo pelos comerciantes e residentes portugueses, que organizaram festas e fogueiras em sua homenagem. Entretanto, o clima de celebração logo se transformou em conflito: brasileiros e portugueses entraram em confronto nas ruas entre os dias 12 e 15 de março de 1831, em episódios que ficaram conhecidos como as Noites das Garrafadas — nome inspirado nas garrafas usadas nas brigas de rua.
O imperador tentou conter a crise nomeando um “Ministério dos Brasileiros”, formado por opositores para acalmar a população, mas logo voltou atrás e substituiu-o por ministros portugueses, o que reacendeu a fúria popular.
A abdicação e o fim do Primeiro Reinado
No dia 7 de abril de 1831, cercado por protestos, D. Pedro I abdicou do trono brasileiro em favor de seu filho de apenas cinco anos, Pedro de Alcântara — o futuro D. Pedro II. O ato visava preservar a continuidade da monarquia no Brasil, mas sob um novo regime: a Regência, responsável por governar até a maioridade do herdeiro.
Após abdicar, D. Pedro I partiu para a Europa com o objetivo de lutar contra D. Miguel e garantir o trono de sua filha em Portugal. Assim terminava o Primeiro Reinado (1822–1831), um período marcado por contradições: autoritarismo, instabilidade econômica e o esforço inicial de construção do Estado brasileiro independente.
