
No início de 1835, a então província do Grão-Pará — que incluía os atuais estados do Pará, Amapá, Rondônia, Roraima e Amazonas — vivia um profundo desequilíbrio social. A região, com cerca de 120 mil habitantes, estava marcada pela miséria, pela escravidão e pelo domínio político de poucos proprietários ligados ao governo imperial.
A sociedade paraense antes da revolta
Grande parte da população era composta por indígenas, negros e mestiços, que trabalhavam em condições de extrema pobreza na extração de produtos naturais, como castanha-do-pará, cacau, madeira e ervas medicinais. Vivendo às margens dos rios, em casas de palha erguidas sobre estacas, eram conhecidos como cabanos.
| Grupo étnico | Habitantes |
|---|---|
| Indígenas | 33.000 |
| Negros | 30.000 |
| Mestiços | 42.000 |
| Brancos | 15.000 |
| Total | 120.000 |
Enquanto os cabanos desejavam o fim da escravidão e acesso à terra, os grandes proprietários queriam apenas ter o direito de eleger o presidente da província, cargo que era nomeado diretamente pelo governo central do Rio de Janeiro. Esse contraste de interesses seria decisivo para o desenrolar da revolta.
A eclosão da Cabanagem
Em 1835, a insatisfação popular explodiu. Ricos e pobres uniram-se momentaneamente e tomaram a capital, Belém, colocando no poder o fazendeiro Félix Clemente Malcher. No entanto, o novo líder logo traiu os ideais populares e tentou reaproximar-se do governo imperial — atitude que levou à sua morte.
Após novas traições e disputas internas, os cabanos, sob a liderança de Eduardo Angelim, retomaram o controle da capital e proclamaram a República do Grão-Pará em agosto de 1835. Era uma tentativa de construir uma sociedade mais justa e autônoma, livre do controle imperial.
A reação do Império
O governo central reagiu duramente. Em 1836, enviou ao norte uma poderosa força militar, apoiada por navios de guerra e mercenários estrangeiros. Durante cinco anos, o conflito devastou a região.
A resistência cabana foi heroica, mas acabou derrotada. Belém foi reconquistada pelas tropas imperiais, e a repressão foi brutal: estima-se que cerca de 40% da população do Grão-Pará tenha sido morta. A província ficou arrasada, e a revolta, sufocada, tornou-se símbolo da luta popular por dignidade e justiça.
Causas da derrota
- Divergências internas entre os próprios líderes cabanos, que dificultaram a unidade do movimento.
- Superioridade militar das forças imperiais, que contavam com apoio externo e equipamentos modernos.
- Isolamento político da revolta em relação às demais províncias do Império.
A Cabanagem foi a mais sangrenta das revoltas regenciais e revelou o abismo social entre o povo amazônico e o poder central do Império.
Fontes consultadas:
Exercícios
- Quais foram as principais causas da eclosão da Cabanagem?
- Quem foram os principais líderes cabanos e quais foram seus objetivos?
- Explique o papel de Eduardo Angelim na revolta.
- Por que o movimento não conseguiu se manter no poder?
- O que a Cabanagem revela sobre as desigualdades sociais do Brasil regencial?
Leitura recomendada
Para compreender melhor a Cabanagem e os conflitos sociais da Amazônia imperial, leia “Rebeliões Regenciais” de Emília Viotti da Costa e “O Tempo das Regências” de Sérgio Buarque de Holanda.
