Confederação do Equador

No início da década de 1820, o autoritarismo do imperador D. Pedro I gerava crescente insatisfação em várias províncias do Brasil. No Nordeste, especialmente em Pernambuco, surgia uma forte oposição política e intelectual, expressa em jornais como o Sentinela da Liberdade, de Cipriano Barata, e o Typhis Pernambucano, de Frei Joaquim do Amor Divino Caneca — o célebre Frei Caneca.

Crítico do Poder Moderador, Frei Caneca chamava-o de “a chave mestra da opressão da nação brasileira”, denunciando o centralismo do Império e defendendo a liberdade política das províncias.

Crise e revolta no Nordeste

O contexto econômico também era grave: a queda dos preços internacionais do açúcar, algodão e fumo provocou uma forte crise no Nordeste. Além disso, o governo imperial mantinha impostos elevados e os preços dos alimentos e aluguéis aumentavam constantemente, afetando principalmente a população pobre.

Em meio a esse cenário, D. Pedro I demitiu o presidente da província de Pernambuco, o que foi interpretado como intervenção autoritária. Em resposta, os pernambucanos se rebelaram. Em 2 de julho de 1824, proclamaram uma República e formaram uma Junta Governativa, contando com o apoio de revolucionários da Paraíba, Alagoas, Rio Grande do Norte e Ceará. Assim nasceu a Confederação do Equador.

Ideais e contradições do movimento

A Confederação reunia grupos sociais diversos — senhores de engenho, comerciantes, militares, mulheres, homens livres pobres e até pessoas escravizadas. Seus líderes defendiam uma república federativa, autonomia provincial e liberdade de imprensa. Alguns, como Frei Caneca e Lázaro de Souza, chegaram a propor o fim da escravidão, mas a maioria dos dirigentes era escravista, o que gerou divisões internas e fragilizou a unidade da revolta.

Temerosos de que o movimento se transformasse em uma revolução social semelhante à do Haiti, muitos grandes proprietários se afastaram da causa republicana, abrindo caminho para a repressão imperial.

A repressão imperial

Determinando o fim da rebelião, D. Pedro I obteve um empréstimo de 1 milhão de libras junto a banqueiros ingleses para financiar uma poderosa campanha militar. As tropas foram lideradas pelo almirante britânico Thomas Cochrane (pelo mar) e pelo brigadeiro Francisco de Lima e Silva (por terra).

Mesmo sem armamento adequado, os confederados resistiram por cerca de dois meses. Quando Recife foi retomada, as forças imperiais — compostas em parte por mercenários ingleses — cometeram graves atrocidades, saqueando, incendiando e matando civis mesmo após a rendição.

Diversos líderes foram presos e condenados à morte. Entre eles, estava o símbolo da resistência republicana: Frei Caneca.

A execução de Frei Caneca

O julgamento de Frei Caneca foi sumário: ele não teve direito à defesa e foi condenado à morte por fuzilamento. Quando chegou o momento da execução, surgiu um impasse: ninguém em Recife queria ser o carrasco daquele homem tão respeitado e admirado.

As autoridades prometeram liberdade a um escravizado caso aceitasse a tarefa, mas ele se recusou, mesmo sob tortura. Diante da recusa geral, o governo decidiu apressar a execução. Em 13 de janeiro de 1825, Frei Caneca foi fuzilado no Recife — sua morte transformou-o em mártir da liberdade e símbolo da resistência republicana brasileira.

A Confederação do Equador terminou derrotada, mas seus ideais de autonomia, justiça e participação popular ecoaram em muitas revoltas que viriam nas décadas seguintes.


Fontes consultadas:

Exercícios

  1. Quais fatores econômicos e políticos levaram à eclosão da Confederação do Equador?
  2. Quem foi Frei Caneca e qual foi seu papel no movimento?
  3. Explique por que a Confederação defendia a autonomia provincial e a república.
  4. Por que a execução de Frei Caneca tornou-se um símbolo histórico?
  5. De que maneira os ideais da Confederação influenciaram movimentos posteriores no Brasil?

Leitura recomendada

Para aprofundar o tema do republicanismo no Brasil, leia “História do Brasil — Boris Fausto” e o livro “Brasil: Uma Biografia” de Lilia Schwarcz e Heloisa Starling. Também vale assistir ao documentário “Frei Caneca: O Mártir da Liberdade” (TV Escola).

Marcadores: confederação do equador, frei caneca, cipriano barata, d. pedro i, revoltas no império, história do brasil, recife, século xix

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