
Rio Grande do Sul e Santa Catarina
No sul do Brasil, a província de São Pedro do Rio Grande — atual Rio Grande do Sul — vivia em clima de tensão política e econômica no início da década de 1830. A economia local baseava-se na pecuária e na produção de charque (carne salgada e seca), além de produtos derivados do gado, como couro, sebo e graxa.
Esses produtos abasteciam principalmente o mercado interno brasileiro. No entanto, os criadores e comerciantes gaúchos enfrentavam sérios problemas: os altos impostos cobrados sobre seus produtos e a concorrência com o charque vindo do Uruguai e da Argentina, que pagava taxas muito menores nos portos do Império. O resultado era uma concorrência desigual e prejuízos crescentes aos produtores locais.
As causas da revolta
Além da crise econômica, havia forte descontentamento político. Os presidentes de província eram nomeados pelo governo central, no Rio de Janeiro, o que impedia os gaúchos de escolher líderes que realmente representassem seus interesses. Crescia a sensação de abandono e de injustiça, resumida na queixa contra a “opressão da Corte”.
Em 20 de setembro de 1835, os revoltosos — chamados de farroupilhas — iniciaram a insurreição. Liderados pelo coronel Bento Gonçalves da Silva, tomaram Porto Alegre, obrigando o presidente da província a fugir. Esse dia se tornaria símbolo do orgulho gaúcho e é celebrado até hoje como o início da Revolução Farroupilha.
A República Rio-Grandense e a República Juliana
Em 1836, os farroupilhas proclamaram a República Rio-Grandense, com capital em Piratini. O novo governo buscava maior autonomia e a defesa dos interesses locais, sem romper completamente com a ideia de Brasil unificado. Mais tarde, em 1839, os revolucionários expandiram sua influência para o norte de Santa Catarina, onde proclamaram a República Juliana, com sede na cidade de Laguna.
Entre os líderes do movimento destacaram-se o general Davi Canabarro e o revolucionário italiano Giuseppe Garibaldi, que trouxe experiência militar e uma tática audaciosa: a construção e o transporte de navios por terra. Como os portos gaúchos estavam bloqueados por forças imperiais, Garibaldi mandou arrastar embarcações sobre carretas puxadas por bois desde Porto Alegre até o litoral catarinense — um feito notável de engenharia improvisada e coragem.
A reação do Império e o fim da guerra
O conflito se prolongou por quase uma década. Em 1842, o governo imperial enviou ao sul o general Luís Alves de Lima e Silva — futuro Duque de Caxias — com cerca de 12 mil soldados, para sufocar a rebelião. As lutas foram intensas e sangrentas, mas o desgaste de ambos os lados levou à negociação.
Em 1845, foi assinado o Tratado de Ponche Verde, encerrando a guerra com o que ficou conhecido como uma “paz honrosa”. O acordo garantiu aos gaúchos algumas concessões importantes:
- Os rio-grandenses puderam escolher o presidente da província local;
- O charque estrangeiro passou a pagar 25% a mais de imposto nos portos brasileiros;
- Os comandantes farroupilhas foram incorporados ao Exército imperial com as mesmas patentes;
- Os escravizados que lutaram ao lado dos farroupilhas foram libertados.
Com essas condições, os rebeldes aceitaram manter o Rio Grande do Sul e Santa Catarina integrados ao Império. O movimento terminou sem vencedores absolutos, mas com o orgulho dos gaúchos intacto e uma nova percepção de autonomia regional.
“A Revolução Farroupilha foi mais do que uma guerra: foi um grito de dignidade regional contra a centralização imperial.”
— Síntese histórica da Revolução Farroupilha
Fontes consultadas:
Exercícios
- Quais foram as principais causas econômicas da Guerra dos Farrapos?
- Quem foram os principais líderes do movimento e qual foi sua atuação?
- Explique a importância da tática de Garibaldi durante a guerra.
- O que foi o Tratado de Ponche Verde e o que ele determinou?
- Por que se diz que a paz entre os farroupilhas e o Império foi “honrosa”?
Leitura recomendada
Para compreender melhor o espírito e as contradições da Revolução Farroupilha, leia “História do Brasil — Boris Fausto” e “O Tempo das Regências” de Sérgio Buarque de Holanda.
