Guerra dos Farrapos (1835–1845)

Rio Grande do Sul e Santa Catarina

No sul do Brasil, a província de São Pedro do Rio Grande — atual Rio Grande do Sul — vivia em clima de tensão política e econômica no início da década de 1830. A economia local baseava-se na pecuária e na produção de charque (carne salgada e seca), além de produtos derivados do gado, como couro, sebo e graxa.

Esses produtos abasteciam principalmente o mercado interno brasileiro. No entanto, os criadores e comerciantes gaúchos enfrentavam sérios problemas: os altos impostos cobrados sobre seus produtos e a concorrência com o charque vindo do Uruguai e da Argentina, que pagava taxas muito menores nos portos do Império. O resultado era uma concorrência desigual e prejuízos crescentes aos produtores locais.

As causas da revolta

Além da crise econômica, havia forte descontentamento político. Os presidentes de província eram nomeados pelo governo central, no Rio de Janeiro, o que impedia os gaúchos de escolher líderes que realmente representassem seus interesses. Crescia a sensação de abandono e de injustiça, resumida na queixa contra a “opressão da Corte”.

Em 20 de setembro de 1835, os revoltosos — chamados de farroupilhas — iniciaram a insurreição. Liderados pelo coronel Bento Gonçalves da Silva, tomaram Porto Alegre, obrigando o presidente da província a fugir. Esse dia se tornaria símbolo do orgulho gaúcho e é celebrado até hoje como o início da Revolução Farroupilha.

A República Rio-Grandense e a República Juliana

Em 1836, os farroupilhas proclamaram a República Rio-Grandense, com capital em Piratini. O novo governo buscava maior autonomia e a defesa dos interesses locais, sem romper completamente com a ideia de Brasil unificado. Mais tarde, em 1839, os revolucionários expandiram sua influência para o norte de Santa Catarina, onde proclamaram a República Juliana, com sede na cidade de Laguna.

Entre os líderes do movimento destacaram-se o general Davi Canabarro e o revolucionário italiano Giuseppe Garibaldi, que trouxe experiência militar e uma tática audaciosa: a construção e o transporte de navios por terra. Como os portos gaúchos estavam bloqueados por forças imperiais, Garibaldi mandou arrastar embarcações sobre carretas puxadas por bois desde Porto Alegre até o litoral catarinense — um feito notável de engenharia improvisada e coragem.

A reação do Império e o fim da guerra

O conflito se prolongou por quase uma década. Em 1842, o governo imperial enviou ao sul o general Luís Alves de Lima e Silva — futuro Duque de Caxias — com cerca de 12 mil soldados, para sufocar a rebelião. As lutas foram intensas e sangrentas, mas o desgaste de ambos os lados levou à negociação.

Em 1845, foi assinado o Tratado de Ponche Verde, encerrando a guerra com o que ficou conhecido como uma “paz honrosa”. O acordo garantiu aos gaúchos algumas concessões importantes:

  • Os rio-grandenses puderam escolher o presidente da província local;
  • O charque estrangeiro passou a pagar 25% a mais de imposto nos portos brasileiros;
  • Os comandantes farroupilhas foram incorporados ao Exército imperial com as mesmas patentes;
  • Os escravizados que lutaram ao lado dos farroupilhas foram libertados.

Com essas condições, os rebeldes aceitaram manter o Rio Grande do Sul e Santa Catarina integrados ao Império. O movimento terminou sem vencedores absolutos, mas com o orgulho dos gaúchos intacto e uma nova percepção de autonomia regional.

“A Revolução Farroupilha foi mais do que uma guerra: foi um grito de dignidade regional contra a centralização imperial.”

— Síntese histórica da Revolução Farroupilha


Fontes consultadas:

Exercícios

  1. Quais foram as principais causas econômicas da Guerra dos Farrapos?
  2. Quem foram os principais líderes do movimento e qual foi sua atuação?
  3. Explique a importância da tática de Garibaldi durante a guerra.
  4. O que foi o Tratado de Ponche Verde e o que ele determinou?
  5. Por que se diz que a paz entre os farroupilhas e o Império foi “honrosa”?

Leitura recomendada

Para compreender melhor o espírito e as contradições da Revolução Farroupilha, leia “História do Brasil — Boris Fausto” e “O Tempo das Regências” de Sérgio Buarque de Holanda.

Marcadores: guerra dos farrapos, revolução farroupilha, rio grande do sul, república rio-grandense, giuseppe garibaldi, duque de caxias, história do brasil

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